quinta-feira, 24 de julho de 2008

Tempos nada interessantes


Márcio C. Almeida
Historiador

O maio de 68 no ano de 2008 fez quarenta anos, em face disto ocorreram uma série de debates sobre o período nas universidades, na mídia e etc, entretanto 1968 marcou toda uma geração de tal maneira que qualquer manifestação juvenil tem como referência a geração 68, inclusive no Brasil que certamente teve aqui a face mais política das manifestações neste célebre ano, muitos invejam os que viveram naquele ano e os seguintes mesmo com toda a repressão vivida no Brasil e em outras partes do mundo. Podemos observar que aqueles jovens tinham um ideal, uma vontade de fazer algo que ficaria gravado definitivamente numa era e conseguiram, mas o grande questionamento é os nos dias atuais com toda esta liberdade proporcionada pela democracia faz de grandioso, marcante, cadê os caras – pintadas( sou desta geração) o que andam fazendo, afinal de contas o presidente que supostamente derrubamos nos anos 90 hoje é senador da República, diga –se de passagem o mais votado nas últimas eleições, bom podem argumentar que alguns revolucionários dos anos 60/70 tornaram – se mensaleiros, verdade mas antes de entrarem no trem da alegria que é a podridão chamada mensalão manchando para sempre as respectivas biografia mostraram que participaram do processo mais por interesse pessoal do que impulsionado por um ideal, entretanto a maioria tinha o objetivo de proporcionar um mundo melhor para todos os indivíduos e no caso brasileiro objetivava os mesmos anseios para todos os cidadãos deste país, em face disto cabe mais um questionamento e a geração msn/orkut, os caras pintadas lutam por que causa ou ideal? se que militam por alguma coisa é claro. As maiores preocupações humanitárias e/ou ontológicas são a busca pelo celular mais moderno, o tênis mais caro, o carro do ano, em suma, lutam para ter, entretanto são duas gerações que não almejam ser, por isso quarenta anos depois maio de 68 ainda é tão celebrada, a geração de 1968 chutou o monaditismo da época propondo novos paradigmas, mas e hoje será que as gerações posteriores a 68 estão fazendo algo de concreto ou estão abraçando modismos do tipo “trabalho numa ONG, logo tenho consciência social” quando na verdade sabemos que é muito fácil sairmos do nosso mundinho, fazermos o nosso “trabalho social” e voltarmos para casa retornando ao mundo particular.
Em face disto que este início de século não tem sido nada interessante, vivemos numa sociedade calcada no individualismo, egoísta, orientada por um mimetismo que leva a um consumo desenfreado, isto pelo simples fato das pessoas querer ter algo que o outro não tenha ou caso apenas dentro grupo social que ele conviva o mesmo seja o único a possuir algo que os demais não tenha o mesmo sinta –se engrandecido pelo fato dos demais não terem, entretanto tais satisfações são efêmeras, pois o dragão da maldade chamado capital faz você querer cada vez mais, fazendo o individuo ter um comportamento semelhante ao de um dependente químico, nunca estando satisfeito com o que tem e sempre querendo mais, portanto igual a um drogado, um alcoólatra e etc. Esta realidade explica em parte o fato de atualmente termos muitos jovens envolvidos com drogas, pois sem poderem saciar o desejo de consumo buscam preencher este vazio existencial, as pessoas de hoje não tem sonhos, objetivos, ideais, causas nobres a defender, a grande preocupação atual é “quando vou comprar meu celular com TV”, quando buscam ler alguma coisa ou é auto – ajuda, claro numa sociedade toda fragmentada é natural esse tipo de literatura, ou é água com açúcar, considerando os poucos que tem o hábito da leitura, maioria está preocupada em saber se o “vilão” da novela morre, se o “fulano fica com a amante”, notícias sobre as questões nacionais nem pensar, quando a preocupação não é novela ou a colocação do Flamengo e Corinthians no brasileirão a mesma gira em torno da seguinte questão “ quando vou comprar meu MP5”, atualmente todos querem o ter mas lamentavelmente ninguém quer ser, não existe mais aquela singela dúvida “ o que vou ser quando crescer”.

O inicio do século XXI é totalmente desprovido de ideais são tempos prosaicos, sem poesia, eros, tudo é virtual, mecânico, genital, em suma passageiro, a geração de 68 viveu tudo que tornava a vida prazerosa sem terem a liberdade, entretanto nós temos a bendita liberdade mas não vivemos uma vida prazerosa, precisamos ler mais Epicuro, o grande filósofo do prazer, estamos vivendo dias sublimados, ou pior, desprovido de qualquer prazer. Portanto é algo para as pessoas dos dias atuais pensarem “porque 1968 é tão celebrado”, acredito que a explicação esteja no fato da geração 68 ter tido um ideal e o mesmo lhe proporcionava um imenso e intenso prazer, pois estavam fazendo algo significativo, isto considerando todos os equívocos possíveis, considerando que a nossa sociedade não tem uma vida prazerosa, logo a mesma é monótona, além do mais como vai ter eros se não possui ideais, daí os nossos dias ao contrário de 1968 não serem nada interessantes.

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