terça-feira, 23 de julho de 2013

Sobre vândalos e vandalismo

     
      Nos últimos dois meses quando explodiu nas ruas de todas as capitais e grandes cidades do Brasil uma onda de protestos, revolta e indignações em geral, duas palavras ganharam o noticiário nacional, estes são os termos vândalos e vandalismo, a mídia oficial claramente disputou a pauta das manifestações e fizeram de tudo para criminalizar os grupos que tinham uma postura mais radical que fugia daquilo que a mídia hegemônica consagrou como perfil correto, “bacana” de se manifestar, ou seja,  estabeleceu o confronto entre aqueles manifestantes sem ideologia, mas em muitos casos movido por um sentimento legitimo de indignação e que tinha uma postura supostamente pacifista e aqueles ligados a grupos, movimentos sociais diversos que tinham uma postura mais combativa, radical.
    
      Entretanto o que é ou são os vândalos? Bom primeiro que os vândalos eram um entre outros tantos povos de origem indo – européia e/ ou ariana que viviam para além das fronteiras do império romano no rio Reno no atual território da Alemanha e no Danúbio no leste europeu, estes povos era aquilo que os romanos chamavam pejoricamente de bárbaros, isto é, aquele que não partilhavam da cultura e dos valores de Roma. Estes povos em dado momento começaram a penetrar aos poucos no império romano e a partir do momento em que os Hunos começaram sua escalada de conquista os mesmos invadiram Roma em sucessivas ondas de ataques e invasão aos territórios romanos, entre estes os que mostravam a maior ferocidade era justamente os vândalos, estes assim como outros povos bárbaros destruíam tudo aquilo que lembrava a opressão dos dominadores romanos. Em face disto os atos realizados pelos vândalos passaram a ser taxados de vandalismo, entretanto a destruição dos símbolos romanos não ocorria pelo simples  prazer de ver os mesmos destruídos, mas sim pelo fato dos símbolos romanos lembrar aos vândalos e demais povos bárbaros todo processo de destruição e escravização destes povos por parte dos romanos.


       Sendo assim todas as manifestações, protestos, levantes, insurreições e revoluções que tenha grupos que partem para a destruição física , portanto violenta passou a ser taxada de vandalismo, entretanto podemos perceber que tal classificação ocorre geralmente a partir do momento em que símbolos do status quo são destruídos o que em tese estaria correto, pois neste caso os manifestantes mais radicais estariam destruindo os símbolos de opressão dos setores hegemônicos, entretanto o que faz a grande mídia ligada aos setores hegemônicos da sociedade, esvazia o termo de seu significado histórico para simplesmente lançar uma áurea negativa, trabalhando a ideia de que as depredações são meramente atos cujo o objetivo é causar o caos, o pânico pelo simples prazer de depredar tudo, quando na verdade se observamos historicamente os chamados atos de vandalismo praticados pelos Vândalos e nos séculos seguinte quando as pessoas na Europa medieval praticava tais atos de destruição de cidades, igrejas, mosteiros e abadias faziam tendo por referência a ideia de estarem destruindo símbolos da opressão e não praticando tais coisas pelo simples desejo de destruir, portanto devemos lançar luzes a história para não nos deixarmos enganar por um discurso midiático e claramente parcial.   

Por Márcio Almeida - Professor, escritor e historiador.

ATENÇÃO: Para ilustrar o texto tem no marcador vídeos um curta sobre essa questão chamado Vândalos & Baderneiros.