sábado, 28 de novembro de 2009

20 de novembro: comemorações e reflexões

Marcio Almeida

professor e historiador

Felizmente para os negros o mês de novembro é de festa e comemorações, mas principalmente de reflexão, o dia da consciência negra, mas popularmente conhecido como dia de Zumbi dos palmares, ilustre baluarte da histórica luta dos negros neste país por liberdade, podemos observar que desde a chegada dos nossos ancestrais até os dias atuais, nos os negros e aqui negros não apenas a tonalidade de pele, mas todo aquele que se considera negro sofre perseguição, logo no inicio mediante decreto pontifício os negros passaram ser considerados seres sem alma, ou seja, como todos os outros animais ditos irracionais, outra justificativa para a condição de cativos por parte dos negros no Brasil era a famosa teoria de Cam, neste caso atribuíram a todos os africanos um parentesco ao filho de Noé conhecido como Cam, este segundo a narrativa bíblica foi expulso pelo pai da própria parentela por ter visto a nudez do mesmo após um porre digno das celebrações dionisíacas, entretanto Noé lançou uma maldição sobro o filho e o mesmo partiu para umas ditas terras do sul, estas não são especificadas nem nas bíblias cristas, quanto nos similares judaicos, entretanto mais a frente dois pensadores cristãos, Agostinho e Jerônimo, ambos considerados santos pela igreja católica refletindo sobre o destino de Cam cogitaram a possibilidade das terras do sul ser no continente africano, os jesuítas do período da colonização do Brasil utilizaram desta teoria desenvolvida pelos dois santos católicos para justificar religiosamente a escravidão no país, pois alegando que os africanos eram descendentes de Cam e este fora amaldiçoado pelo pai, logo os descendentes do mesmo, ou seja, os africanos partilhavam da mesma condenação e era neste ponto que vinha a justificativa para a condição de cativo do negro no Brasil, pois somente aceitando a condição de escravo num país “cristão” o mesmo poderia ser purificado e ascender ao reino dos céus na ocasião de sua morte, isto é, enquanto vivesse deveria aceitar passivamente a escravidão, outros ataques viriam durante o período colonial com destaque para o ocorrido em palmares, até porque a existência do mesmo era uma afronta a ordem estabelecida, a perseguição implacável a figura de Chica da Silva mesmo depois de morta, todas as leis imperiais que cerceava o acesso do negro aos bancos escolares, mazela esta que observamos nos dias atuais com sucateamento da escola publica e isto por um motivo bem simples, na maioria das mesmas a maior parte da clientela é negra, daí o sucateamento da mesma, o processo de imigração no final do século XIX que colocou o negro na condição de cidadão de 3º classe se é que podíamos nos considerar cidadãos após a abolição da escravatura no Brasil e de mão de obra de reserva, pois a partir da republica a preferência era por trabalhadores vindos da Europa e outras regiões do mundo, restando aos negros o banditismo, pequenos bicos e a prostituição no caso no caso feminino, além das casas das grandes famílias.
Entretanto podemos observar que hoje também tentam de toda forma nos oferecer as piores funções e mais querem que nos conformemos com a ordem estabelecida, pois o discurso anti – cotas que possui nas figuras de Ali Kamel e Demetrio Magnoli seus principais entusiastas nada mais é do que uma tentativa de querer nos legar uma condição inferiorizada dentro da sociedade brasileira, no passado o conformismo era justificativa para alcançar o céu, no presente o mesmo é para que sejamos aceitos como “iguais” dentro do Brasil democrático, o mesmo vale para a nossa espiritualidade que foge ao padrão cristão e europeu e que nos fornece uma identidade, tais perseguições e desconsideração com as religiões de matriz africana também está no bojo do preconceito existente dentro da sociedade brasileira, daí todo o ataque de setores identificado com aquilo que podemos chamar de expressão religiosa dominante, mas com tudo isto a comunidade negra tem conseguido vitórias junto à sociedade brasileira, coisas como a lei que cria a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana, leis de cotas e principalmente o sucesso de cotistas nas universidades públicas, a chegada de negros a altos escalões do governo como é o caso de Joaquim Barbosa ministro do supremo tribunal federal são motivos para comemorarmos, entretanto a luta ainda é árdua contra a discriminação étnica na qual somos vitimas, mas o mês de novembro é de festa para todos os negros do Brasil e que todos tenham tido um ótimo dia da consciência negra, Oxalá nos proteja axé.
obs: este texto encontra - se no blog prof: marcio historiador do mesmo autor.