sábado, 28 de novembro de 2009

20 de novembro: comemorações e reflexões

Marcio Almeida

professor e historiador

Felizmente para os negros o mês de novembro é de festa e comemorações, mas principalmente de reflexão, o dia da consciência negra, mas popularmente conhecido como dia de Zumbi dos palmares, ilustre baluarte da histórica luta dos negros neste país por liberdade, podemos observar que desde a chegada dos nossos ancestrais até os dias atuais, nos os negros e aqui negros não apenas a tonalidade de pele, mas todo aquele que se considera negro sofre perseguição, logo no inicio mediante decreto pontifício os negros passaram ser considerados seres sem alma, ou seja, como todos os outros animais ditos irracionais, outra justificativa para a condição de cativos por parte dos negros no Brasil era a famosa teoria de Cam, neste caso atribuíram a todos os africanos um parentesco ao filho de Noé conhecido como Cam, este segundo a narrativa bíblica foi expulso pelo pai da própria parentela por ter visto a nudez do mesmo após um porre digno das celebrações dionisíacas, entretanto Noé lançou uma maldição sobro o filho e o mesmo partiu para umas ditas terras do sul, estas não são especificadas nem nas bíblias cristas, quanto nos similares judaicos, entretanto mais a frente dois pensadores cristãos, Agostinho e Jerônimo, ambos considerados santos pela igreja católica refletindo sobre o destino de Cam cogitaram a possibilidade das terras do sul ser no continente africano, os jesuítas do período da colonização do Brasil utilizaram desta teoria desenvolvida pelos dois santos católicos para justificar religiosamente a escravidão no país, pois alegando que os africanos eram descendentes de Cam e este fora amaldiçoado pelo pai, logo os descendentes do mesmo, ou seja, os africanos partilhavam da mesma condenação e era neste ponto que vinha a justificativa para a condição de cativo do negro no Brasil, pois somente aceitando a condição de escravo num país “cristão” o mesmo poderia ser purificado e ascender ao reino dos céus na ocasião de sua morte, isto é, enquanto vivesse deveria aceitar passivamente a escravidão, outros ataques viriam durante o período colonial com destaque para o ocorrido em palmares, até porque a existência do mesmo era uma afronta a ordem estabelecida, a perseguição implacável a figura de Chica da Silva mesmo depois de morta, todas as leis imperiais que cerceava o acesso do negro aos bancos escolares, mazela esta que observamos nos dias atuais com sucateamento da escola publica e isto por um motivo bem simples, na maioria das mesmas a maior parte da clientela é negra, daí o sucateamento da mesma, o processo de imigração no final do século XIX que colocou o negro na condição de cidadão de 3º classe se é que podíamos nos considerar cidadãos após a abolição da escravatura no Brasil e de mão de obra de reserva, pois a partir da republica a preferência era por trabalhadores vindos da Europa e outras regiões do mundo, restando aos negros o banditismo, pequenos bicos e a prostituição no caso no caso feminino, além das casas das grandes famílias.
Entretanto podemos observar que hoje também tentam de toda forma nos oferecer as piores funções e mais querem que nos conformemos com a ordem estabelecida, pois o discurso anti – cotas que possui nas figuras de Ali Kamel e Demetrio Magnoli seus principais entusiastas nada mais é do que uma tentativa de querer nos legar uma condição inferiorizada dentro da sociedade brasileira, no passado o conformismo era justificativa para alcançar o céu, no presente o mesmo é para que sejamos aceitos como “iguais” dentro do Brasil democrático, o mesmo vale para a nossa espiritualidade que foge ao padrão cristão e europeu e que nos fornece uma identidade, tais perseguições e desconsideração com as religiões de matriz africana também está no bojo do preconceito existente dentro da sociedade brasileira, daí todo o ataque de setores identificado com aquilo que podemos chamar de expressão religiosa dominante, mas com tudo isto a comunidade negra tem conseguido vitórias junto à sociedade brasileira, coisas como a lei que cria a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana, leis de cotas e principalmente o sucesso de cotistas nas universidades públicas, a chegada de negros a altos escalões do governo como é o caso de Joaquim Barbosa ministro do supremo tribunal federal são motivos para comemorarmos, entretanto a luta ainda é árdua contra a discriminação étnica na qual somos vitimas, mas o mês de novembro é de festa para todos os negros do Brasil e que todos tenham tido um ótimo dia da consciência negra, Oxalá nos proteja axé.
obs: este texto encontra - se no blog prof: marcio historiador do mesmo autor.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Saquaremas Modernos


Os escândalos ocorridos em Brasília deixaram exposta a face atual da política brasileira, atualmente não temos situação e oposição, vivemos na verdade uma versão pós – contemporânea dos tempos saquarema, mas antes de entrarmos na analise da atual cena política vemos rememorar o que foi o dito tempo saquarema, este correspondeu cronologicamente ao período do governo de Dom Pedro II, este tornou – se imperador mediante o golpe da maioridade*, portanto o filho de Dom Pedro I não tinha idade para tornar – se imperador, mas para garantir os interesses das elites dominantes foi orquestrado o golpe, logo tivemos inicio ao processo de acomodação dos interesses de liberais e conservadores, este divergiam apenas em pontos que os interesses se contradiziam, a partir do segundo reinado liberais tornaram – se semelhantes, inclusive foi cunhado um termo: “ nada tão liberal quanto um conservador e nada tão conservador quanto um liberal” por ai podemos observar o que foi este momento na política imperial brasileira, em nossos dias estamos assistindo a reedição deste tempos, pois o que estamos observando na atual política brasileira é um verdadeiro acórdão conciliatório, estamos observando alianças jamais imaginadas uma década atrás, PT x PMDB, PT x PSDB, esta ocorreu na Bahia e em Minas Gerais de forma extra oficial e pode ocorrer agora no senado, pois segundo os jornais está foi proposto um acordo entre PSDB e PT em relação a situação do presidente do senado, aliás estes dois partidos são o símbolo Maximo dos tempos saquarema moderno, pois qual é a grande diferença entre o projeto de poder dos tucanos e petistas, basicamente repousa no fato que para os tucanos o processo deve ser desenvolvido a partir da iniciativa privada, eles são liberais não dúvidas quanto a isso, o PT pensa que o projeto deve ser desenvolvido a partir de uma ação mista combinando estado e iniciativa privada, entretanto o mesmo em nenhum instante caracteriza –se como um autentico estado de bem estar (welfare) mas, sim como uma espécie de liberalismo social que foi na verdade o que ocorreu nos EUA e Grã – Bretanha nos anos 30 do século XX para salvar estes paises e o ocidente capitalista de um levante popular de orientação socialista, portanto o que o PT faz aqui é isto um autentico liberalismo social que o atual presidente chama de capitalismo de inclusão, mas uma coisa esta clara independente de sigla o projeto capitalista de sociedade continua inabalável, pois o partido que acreditava – se que mudaria os rumos do processo não só o manteve como foi inclusive mais ortodoxo do que os tucanos no tocante a economia seguindo a risca o mantra do FMI, banqueiros e larápios internacionais, em face disto podemos perceber que a diferença entre eles é meramente de ordem técnica, não existe um choque de projetos de nação porque os mesmos são semelhantes, a diferença caso ela exista é como ocorrerá a execução do projeto fora isso são iguais, em face disto podemos afirmar que estamos vivendo novos tempos saquarema, pois os interesses, projetos e ideais se aproxima e muito dos interesses capitalista a ligação é tão forte, estreita que os banqueiros, fiesp e etc são os primeiros a defende – lo das criticas, em contrapartida aqueles que não gozam das benesses do capital são os principais prejudicados, em face disto podemos afirmar sem medo vivemos os tempos saquarema no limiar do século XXI, quem diria!

Márcio C. Almeida - historiador

Homogenização Capitalista


A sociedade atual caminha para um processo de homogeneização, aonde todos devem ter o mesmo comportamento, costumes, gostos e etc, contribui muito para isto o processo conhecido como globalização, este que analisado historicamente é um eufemismo para o velho processo de colonização, em face disto o paradigma cultural, política e principalmente econômica são a face mais visível da dominação das potências capitalistas, ou seja, os paises desenvolvidos frente os homônimos em desenvolvimento. Outra forma de dominação das grandes potências ocorre mediante a cooptação das elites dominantes locais, isto é, dos paises em desenvolvimento, estas a partir de então passam a ser negadoras da cultural do respectivo país e defensoras de valores exógenos, logo todas as pessoas que colocam – se à margem deste projeto hegemônico da sociedade são classificadas como anormais, isto ocorre pelo fato destas pessoas terem uma atitude crítica em relação a sociedade atual, todos aqueles que passam a ter uma atitude socrática frente a esta sociedade sofistica torna –se alvo de perseguição, temos uma mídia que ridiculariza todas as manifestações da cultura popular, nacional, somente as expressões culturais das elites dominantes recebem o devido tratamento, logo podemos constatar que no mundo atual não existe espaço para uma conduta alternativa, fora da imposição pasteurizada da sociedade contemporânea.

Somado a esta triste realidade estamos assistindo o retorno do conservadorismo, temos a adequação do velho puritanismo o limiar do século XXI a realidade atual, podemos observar o respectivo avanço no crescimento da intolerância tanto no plano étnico, social e religioso. Em termos étnicos o quadro não mostra novidade, pois tudo aquilo que não está dentro do padrão é marginalizado, seja criminal ou socialmente, podemos inclusive ser nas duas formas, veja o tratamento dado pelas forças de segurança nas periferias das grandes cidades, na loucura de busca pelo corpo perfeito e etc, em termos sociais basta observa o tratamento dado aos locais fora das áreas nobres fica claro a inferioridade que as populações destas regiões são vistas e justamente nestas que o conservadorismo é trabalhado dado o fato das pessoas destas regiões em tese ter menos acesso a escolarização, logo em teoria o número de pessoas com capacidade de reflexão é menor, logo percebe a relação entre o conservadorismo e a religião o que é algo distinto da religiosidade, isto porque a podemos perceber o avanço na perseguição das religiões fora da matriz cristã a mesma ocorre pelo fato das expressões religiosas de origem afro – indígena ser vista como o diferente, o anormal, logo sofre perseguição pelo fato das mesmas não enquadrarem –se naquilo que a sociedade pasteurizada, homogeneizada, de orientação burguesa julga como correto e todos aqueles que criticam esta conjuntura são rotuladas como anormais, pois não aceitam o enquadramento, o rótulo, enfim a capitulação frente ao projeto hegemônico de sociedade.

Em face disto podemos observar que as lutas travadas pelos grupos de vanguarda nos anos 60 e 70 não atingiram todos os objetivos, pois lutaram pela liberdade, mas o que temos hoje é uma sociedade pautada na liberalidade, ou seja, que deturpou a ideia de sociedade livre e colocou em voga um modelo licencioso, este que permite as pessoas agir sem responsabilidade, isto definitivamente não é uma atitude crítica em relação à sociedade, mas apenas a face permissiva desta sociedade que tenta adequar os anseios de liberdade com a respectiva atitude, algo que não deixa de ser mais uma face do conservadorismo, este que é uma forma de enquadramento da sociedade atual. Logo podemos perceber que uma atitude oposta à sociedade atual implica numa marginalização por parte da mesma, portanto cabe aos heróis anormais não capitular frente a opressão feita pela atual sociedade, esta que tenta homogenizar a todo custo os seres humanos.


Márcio C. Almeida - historiador




terça-feira, 4 de agosto de 2009

Erotismo no limiar do século XXI

A sociedade do limiar do século XXI que vivemos é herdeira direta das conquistas obtidas pelos movimentos que militaram radicalmente nos anos 60/70 (estudantes, feministas, negros e etc) entre as reinvidicações estava a liberdade sexual, isto não implicava em atitudes licenciosas, muito menos irresponsáveis. Entretanto podemos observar que ao invés de termos sociedade erótica em sentido platônico, temos uma genitalização do erotismo, base da pornografia que é a face mais rasteira e embrutecida da dimensão sexual do erotismo, esta realidade no entanto é fruto da adequação da sociedade burguesa frente as mudanças que estavam ocorrendo a partir dos anos 60/70, portanto passamos a ter migalhas de erotismo, este na sua face genitalizada, aonde temos como símbolo maior o estilo “playboy” de vida, neste momento ocorre um bool na industria pornográfica com o surgimento de uma gama e materiais sobre o assunto que no inicio era impresso e nos dias atuais podem ser encontrados em qualquer esfera de comunicação, isto é, da mídia impressa à online, longe de querer negar a face genital do enlace erótico quando duas pessoas que desejam mutuamente e tendo por objetivo proporcionar prazer a ambos, pelo menos em tese, entretanto o grande problema é a redução do erotismo em nossos dias foi reduzida apenas a sua dimensão sexual com recorte genital, quando deveríamos estar experimentando as outras dimensões de Eros em nossas vida.
Mas o que explica esta genitalização é a necessidade de controle social, isto mesmo! Pode parecer até certo ponto estranho, entretanto vamos aos fatos a redução de Eros a mera genitalidade quebra a idéia de hedonismo que basicamente significa viver com prazer, ou seja, fazer coisas que lhe proporciona prazer e bem estar, proporcionando uma vida feliz, em contra partida a noção de felicidade dominante em nossa sociedade é aquela que repousa no consumismo, o mesmo coloca que o individuo deseja é possível desde que o mesmo possa comprar, isto impulsiona o consumismo algo que interessa ao capitalismo. Em face disto podemos perceber que o controle de Eros significa o cerceamento da liberdade, pois no momento em que o individuo significa o cerceamento da liberdade, pois no momento em que o individuo é alienado das outras possibilidades que o erotismo proporciona, isto é, quando o mesmo acredita que erotismo é mera genitalidade passo a ter o controle ou a sublimação do mesmo, devido ao fato que a energia, criatividade e sensibilidade que o individuo empregaria em atividades prazerosas passa a ser empregada no trabalho, isto impulsiona a economia o que é de interesse capitalista, outro fator a ser observado é que os parcos momentos de lazer e prazer ocorrem sempre no finais de semana, isto tem o objetivo de ter trabalhadores supostamente relaxados e melhor disposto para mais uma semana de trabalho.

Em face disto podemos perceber que Eros continua aprisionado em sua condição Tanatos, isto explica o sucesso de coisas com o sex shops, casas de swing, clubes de erotismo, isto ocorre devido ao fato destes locais os indivíduos poderem experimentar outras possibilidades que o erotismo oferece ainda que Eros não se resuma a sua face sexual, pois todas vezes que lemos um livro, bebemos com os amigos, ouvimos e/ou dançamos uma música que gostamos, estamos na verdade gozando de momentos prazerosos, ou seja, estamos exercendo o nosso Eros em sentido helênico, em face disto percebemos que o erotismo esta ligado a aquilo que proporciona ou dar prazer, fica claro que a nossa sociedade é carente de prazer devido ao fato de crer que tudo é possível de ser consumido, recebemos em troca migalhas de supostos prazeres quando na verdade aquilo que nos pertence é negado, logo temos que nos libertar desta opressão, pois cercear Eros significa controlar a sociedade e negar a liberdade a mesma em toda sua totalidade.
OBS: a imagem acima refere -se ao deus Eros divindade do amor.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Os anormais.

Márcio C. Almeida
Historiador
A sociedade atual caminha para um processo de homogeneização, aonde todos devem ter o mesmo comportamento, costumes, gostos e etc, contribui muito para isto o processo conhecido como globalização, este que analisado historicamente é um eufemismo para o velho processo de colonização, em face disto o paradigma cultural, política e principalmente econômica são a face mais visível da dominação das potências capitalistas, ou seja, os paises desenvolvidos frente os homônimos em desenvolvimento. Outra forma de dominação das grandes potências ocorre mediante a cooptação das elites dominantes locais, isto é, dos paises em desenvolvimento, estas a partir de então passam a ser negadoras da cultural do respectivo país e defensoras de valores exógenos, logo todas as pessoas que colocam – se à margem deste projeto hegemônico da sociedade são classificadas como anormais, isto ocorre pelo fato destas pessoas terem uma atitude crítica em relação a sociedade atual, todos aqueles que passam a ter uma atitude socrática frente a esta sociedade sofistica torna –se alvo de perseguição, temos uma mídia que ridiculariza todas as manifestações da cultura popular, nacional, somente as expressões culturais das elites dominantes recebem o devido tratamento, logo podemos constatar que no mundo atual não existe espaço para uma conduta alternativa, fora da imposição pasteurizada da sociedade contemporânea.

Somado a esta triste realidade estamos assistindo o retorno do conservadorismo, temos a adequação do velho puritanismo o limiar do século XXI a realidade atual, podemos observar o respectivo avanço no crescimento da intolerância tanto no plano étnico, social e religioso. Em termos étnicos o quadro não mostra novidade, pois tudo aquilo que não está dentro do padrão é marginalizado, seja criminal ou socialmente, podemos inclusive ser nas duas formas, veja o tratamento dado pelas forças de segurança nas periferias das grandes cidades, na loucura de busca pelo corpo perfeito e etc, em termos sociais basta observa o tratamento dado aos locais fora das áreas nobres fica claro a inferioridade que as populações destas regiões são vistas e justamente nestas que o conservadorismo é trabalhado dado o fato das pessoas destas regiões em tese ter menos acesso a escolarização, logo em teoria o número de pessoas com capacidade de reflexão é menor, logo percebe a relação entre o conservadorismo e a religião o que é algo distinto da religiosidade, isto porque a podemos perceber o avanço na perseguição das religiões fora da matriz cristã a mesma ocorre pelo fato das expressões religiosas de origem afro – indígena ser vista como o diferente, o anormal, logo sofre perseguição pelo fato das mesmas não enquadrarem –se naquilo que a sociedade pasteurizada, homogeneizada, de orientação burguesa julga como correto e todos aqueles que criticam esta conjuntura são rotuladas como anormais, pois não aceitam o enquadramento, o rótulo, enfim a capitulação frente ao projeto hegemônico de sociedade.

Em face disto podemos observar que as lutas travadas pelos grupos de vanguarda nos anos 60 e 70 não atingiram todos os objetivos, pois lutaram pela liberdade, mas o que temos hoje é uma sociedade pautada na liberalidade, ou seja, que deturpou a ideia de sociedade livre e colocou em voga um modelo licencioso, este que permite as pessoas agir sem responsabilidade, isto definitivamente não é uma atitude crítica em relação à sociedade, mas apenas a face permissiva desta sociedade que tenta adequar os anseios de liberdade com a respectiva atitude, algo que não deixa de ser mais uma face do conservadorismo, este que é uma forma de enquadramento da sociedade atual. Logo podemos perceber que uma atitude oposta à sociedade atual implica numa marginalização por parte da mesma, portanto cabe aos heróis anormais não capitular frente a opressão feita pela atual sociedade, esta que tenta homogenizar a todo custo os seres humanos.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um dia para refletir

Márcio C. Almeida

Historiador



O Dia 20 de julho, mês quem vem do latim Julius e que foi criado pelo ditador romano Caio Julio César em homenagem a si mesmo também celebra o dia do amigo, mas que significado possuiu esta data nos dias atuais, estes marcados pela liquidez, fragilidade, precariedade e etc. A respectiva data está de acordo com a sociedade burguesa capitalista ,esta que prega a competitividade acima de qualquer coisa, aonde a satisfação individual é mais importante que o bem estar geral da comunidade, efetivamente esta data corresponde a um amor philia ou é mais um dos ritos que nós humanos criamos para lembrarmos as antigas praticas que verdadeiramente de amizade, tal nível de amorosidade é possível numa sociedade aonde felicidade é sinônimo de capacidade de consumo, de tamanho de conta bancária, formada por pessoas que aproximam – se de você não pelo que o individuo é, mas por aquilo que o individuo pode proporcionar financeiramente.

Segundo o celebre filosofo grego Aristóteles grande entusiasta do amor philia (amizade em grego) dizia que para existir um funcionamento pleno numa comunidade era necessário que os membros da mesma fossem amigos uns dos outros, pois só a amizade poderia garantir o bem estar geral da comunidade, inclusive este é o grande motivo que coloca o estagiarita como um dos grandes críticos da democracia, pois a mesma não partia de princípios que visassem o bem estar geral da comunidade a partir do amor philia, mas sim a partir dos interesses da maioria e estes nem sempre é o de todos, algo que podemos observar até os nossos dias, em face disto devemos refletir sobre a presente data olhando para o passado refletindo o presente, será que realmente somos solidários enquanto amigos, aliás quem são nossos amigos, somente aqueles do nosso circulo social ou todos os habitantes da comunidade, temos verdadeiramente uma atitude de amizade para com aqueles que precisam de nós, neste tempos de individualismo exacerbado aonde o diferente é mal visto e as amizades e os relacionamentos são virtuais existe espaço para amizades reais, acredito que a resposta passe justamente pelo contato com o ser humano, este que a cada dia vem sendo desumanizado pela sociedade tecnológico – cientifica dado a frieza da ciência frente a questões que esta para além da pura racionalidade. Portanto temos novamente a necessidade de um novo mito do bom selvagem, para humanizar aquilo que é legitimo do homo sapiens, para resgatar aquilo que há de mais sublime entre os seres humanos, o amor philia, ou seja, a amizade. Feliz dia do amigo a todos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A loucura e o consumo

Márcio C. Almeida
Historiador
Certo dia caminhando dentro de um destes templos do consumo atual comecei a observar o comportamento das pessoas e a suposta felicidade que as mesmas aparentavam, tal situação me fez lembrar de uma agradável leitura do clássico elogio da loucura do célebre filósofo e humanista holandês Erasmo de Rotterdam, este que fala justamente da loucura das pessoas de forma alegórica, a impressão que tive foi que o mesmo havia acabado de sair de um destes shoppings centers da vida e escreveu o livro tamanha a atualidade do tema, pois a nossa sociedade que tem seus valores e sua ética baseada no consumo, vive um verdadeiro estado mimético de loucura, devido ao fato de querer consumir a todo custo, esta realidade foi provocada pela ética do consumo, baseada no individualismo desenvolvido pelo sistema capitalista, isto para provocar no individuo uma constante necessidade de consumo, pois nos séculos anteriores a admiração repousava naqueles que tinham um saber, que detinha, portanto uma habilidade que catalisava para si a admiração de toda a comunidade, isto acontecia a com os anciãos, filósofos, artistas, chefe guerreiros,intelectuais, professores e etc. Geralmente este eram vistos como nobres e em face disto tinham privilégios em relação as demais categorias, com o advento do capitalismo as coisas mudaram, entretanto para pior, pois se antes os privilégios eram para os nobres com a chegada da burguesia ao poder a mesma torna –se elite dominante com ares aristocráticos e passam a impor a sua ética, ou seja, o consumo exacerbado devido ao fato do capitalismo necessitar do mesmo ilimitadamente para se realizar enquanto sistema, caso contrario a tendência seria o fim do mesmo, daí a necessidade dos capitalistas dominarem todas as esferas da sociedade para que o seu ethos prevaleça e isso nos estamos vivendo nos nossos dias.
Atualmente as pessoas se realizam enquanto consumidoras algo que é extremamente grave, pois estão reduzindo os serem humanos a meros consumidores, podemos observar que o único direito que ouvimos falar é o relacionado aos consumidores e isto de maneira muito superficial, rasteira, portanto temos que atentar para tal realidade pelo fato dos seres humanos estarem se tornando verdadeiros seres amorfos, meros dígitos nas caixas registradoras, quando na verdade somos muito mais, em face disto vivemos numa sociedade doente, fragmentada, sublimada pela ideologia do consumo, esta que incute nas pessoas que só consumindo poderemos ser felizes e nos realizar enquanto seres humanos, entretanto tal lógica tem por objetivo evitar a contestação do status quo estabelecido, ou seja, o sistema capitalista que mediante a globalização, esta de modelo negativo, leva o seu fatalismo falacioso para todos os cantos do planeta, provocando a homogenização do mundo, neste sentido ocorrer uma alienação do individuo no tocante ao direito de escolha, isto é, na lógica capitalista não cabe a tentativa de um outro modelo de sociedade devido ao fato de supostamente não haver possibilidade de desenvolvimento fora da sociedade de consumo, em face disto temos como resultado da adoção desta lógica, os condomínios fechados, segurança privada, violência e etc, tudo ocasionado pelo fatalismo do capital, vivemos uma verdadeira ditadura neoliberal e aqueles que ousam colocar – se contra são radicalmente perseguidos, qualquer manifestação de heterogeneidade numa sociedade homogenia é sumariamente aniquilada, somos vigiados constantemente.
Em face disto quando alguém faz colocações do tipo: “não gosto de shopping center” ou “não gosto de determinado lugar” soa estranho para a maioria das pessoas, pois a mesmas realizam – se apenas quando estão na condição de consumidores, portanto as mesmas querem ter para ser quando na verdade a lógica é a inversa, mas para isso teria que emergir uma nova antropologia, um novo ethos na humanidade para que pudéssemos criar uma nova sociedade, esta baseada na justiça, na igualdade, na fraternidade tendo por objetivo proporcionar o bem comum a todos de acordo com capacidade de cada um, mas tal realidade repousa no campo da utopia e a mesma neste modelo de sociedade vigente foi morta, pois a lógica fatalista deste sistema nos impede de sonhar e a utopia tem como ponto inicial o sonho, entretanto este também foi eliminado dentro do neoliberalismo, vivemos o tempo do pragmatismo aonde tudo é estritamente real, logo podemos afirmar que o amor acabou neste tipo de sociedade, pois somente aqueles que amam podem sonhar e logo acreditar que um outro mundo é possível. Mas presenciamos uma sociedade aonde tudo é possível desde que você possa pagar, em face disto compramos a beleza, o status, a amizade e etc, isto claro dentro da ordem de valores que a sociedade neoliberal impõem como padrão, caso contrario está excluído da mesma, logo o seu pertencimento é condicionado a sua capacidade de consumo, portanto temos configurada a cidadania em pequenos estratos, lembrando o voto censitário aonde de acordo com a sua renda você poderia votar e/ou concorrer a um cargo legislativo, hoje a sua cidadania é medida de acordo com a sua conta bancária, poder de consumo e etc. Logo temos uma sociedade de pessoas frívolas, preocupadas em comprar um celular com TV, um novo carro e assim por diante, nos sentimos felizes por comermos em praças de alimentação que mais parecem os chiqueiros de antigamente, pois atualmente os porcos se recusam a alimentar – se em tais condições, mas não contestamos porque não estamos saciando a fome e sim o status social que tal atitude nos confere, sofremos portanto aquilo que Marx classificou como fetichismo da mercadoria, o mesmo ocorre quando compramos um produto não por sua necessidade, mas pelo valor simbólico que o respectivo objeto adquirido possui, ou seja, pelo status social que vem agregado ao mesmo, temos como exemplo comprar um celular pela necessidade da comunicação e o mesmo para lhe conferir status social, pois quando caímos no segundo item estamos sofrendo o fetichismo devido ao fato de comprar o produto pelo status conferido e não pela necessidade, prevalece o valor simbólico e não o de uso.
O aspecto grave desta situação é que cria – se um mimetismo pelo fato da ética atual está baseada no ter, logo aqueles que não tem querem uma possibilidade para consumir e tendo poderem ser, entretanto a desigualdade social, característica das sociedades capitalistas permitem o consumo apenas de uma forma, através da inclusão exploradora, isto é, possibilita aquilo que Malthus classificava como migalhas o que no nosso caso são as mesmas referentes a riqueza produzida pelo capital, isto realiza –se no momento em que os indivíduos que nada tiveram puderam de uma hora para outra consumir coisas nunca antes imaginadas, entretanto o resultado social disto estamos vendo no dia a dia que é o colapso total da sociedade aonde vale qualquer coisa pelo dinheiro, tudo porque muitos querem ter o que poucos possuem em plenitude e boa parte tem acesso em migalhas.
Logo para mudarmos esta sociedade que encontra – se no CTI do humanismo teremos que construir um novo ethos para mesma, um modelo que respeite os aspectos humanísticos, ecológicos e filosóficos dos serem humanos, caso contrario continuaremos assistindo a degradação e a exploração de Gaia e de seus filhos e particularmente dos homo sapiens, estes que dotados inteligência não atentam para o cataclisma que o desumano e antiecológico sistema capitalista está conduzindo a humanidade, tudo isto impulsionado pelo consumo que alimenta a loucura do enriquecimento ilimitado dos donos do capital.

terça-feira, 31 de março de 2009

A dita ditadura branda

Márcio C. Almeida
Historiador.

A polemica criada a partir de um neologismo num texto editorial de um jornal de grande circulação gerou mais um debate sobre a ditadura.

O primeiro ponto a ser observado é que o nefando período da história brasileira mantém suas feridas mais abertas do que nunca, temos em face disto uma luta entre aqueles que tentam amenizar os efeitos do período ditatorial, enquanto que outros procuram revelar fatos que por muito tempo foram ocultados, podemos observar a luta no congresso para embargar a autorização para o acesso aos arquivos da ditadura. Outro aspecto desta luta ocorre na mídia, pois a mesma sempre procurou ocultar diversos fatos ocorridos naquele período, ainda que pontualmente faça “matérias” sobre o assunto dando impressão de busca pela verdade, mas a mesma é superficial, haja vista que os grandes conglomerados midiáticos foram beneficiados neste período, ainda que não admitam publicamente. O segundo ponto repousa no aspecto quantitativo que o respectivo editorial usa para justificar o polêmico neologismo, o mesmo argumenta que o regime ocorrido no Brasil foi muito mais ameno do que nos países vizinhos, ou seja, aqui aconteceu uma “ditabranda” porque houve menos mortos, logo menos violência, em face disto respectivo texto deixa a entender que a ditadura civil – militar brasileira não foi este “ leviatã”,que segundo o respectivo editorial é pintado por historiadores, sociólogos e pesquisadores em geral. Em primeiro lugar não é pela quantidade de pessoas que morreram, mas sim pelo fato de ter havido mortes neste regime que o mesmo deve ser condenado, segundo se houve tão poucas mortes o que explica o temor em relação à abertura dos arquivos? Porque os veículos de comunicação da grande mídia não pressionam para tal coisa, como dizia o célebre Brizola “é necessário que as pessoas abram suas mochilas”, esta frase foi dita pelo mesmo num debate durante as eleições de 1989, não só os políticos, mas muitos grupos empresariais e a grande mídia deveriam abrir as suas, entretanto correm o risco do passado os levarem a condenação pública. Portanto a justificativa infeliz simbolizada no nefasto neologismo tinha por objetivo tentar abrandar a situação para os militares, teve efeito contrário, pois ocorreu uma onda coletiva de repúdio contra o respectivo jornal com destaque para os intelectuais Fábio Konder e Maria Benevides, ambos da USP. A indignação destes dois pensadores e de milhares de pessoas expressa os sentimentos de todos aqueles que lutaram - e ainda combatem o bom combate – contra o regime, dos que pagaram com a vida, das famílias que não puderam enterrar e prantear seus mortos.

Lamentavelmente indivíduos como estes que escreveram o nefando editorial possui representantes no congresso nacional, são os mesmos que concede habeas corpus para banqueiros corruptos, abafam desvios de verbas daqueles que representam seus interesses, criminalizam comunidades nas áreas periféricas do país, em face disto o respectivo editorial reflete a forma como as elites do país observam o restante da sociedade, isto é, de forma prepotente, com ar de superioridade, achando – se acima do bem e do mal, logo podemos afirmar que a ditadura foi tudo assassina, violenta, voltada para as elites, menos branda como queria fazer acreditar o respectivo editorial, um absurdo! E ainda tem quem acredita.

terça-feira, 3 de março de 2009

Puritanismo e permissividade

Márcio C. Almeida

Historiador.

Assistindo a um capítulo de uma minissérie transmitida por uma grande emissora de televisão comecei a refletir sobre a inversão, ou melhor, sobre a mudança dos valores sociais. Podemos observar que até o início dos anos 60 tínhamos definidos os papeis de homens e mulheres, aos primeiros cabia o sustento da casa, em linguagem digamos religiosas e patriarcal, o “chefe da casa” ou “cabeça da família”, contrapartida cabia a mulher o zelo da casa, o cuidar dos filhos e do marido, tendo por objetivo manter a harmonia da casa, para consagrar esta realidade foi cunhada a expressão “ rainha do lar”, entretanto ficava claro o limite de ação da mulher, o espaço permitido para mesma nesta sociedade, isto porque o mundo ocidental estava sobre valores puritanos, portanto de orientação conservadora do ponto de vista moral, esta coerção social existente na sociedade tem origem nas idéias religiosas que se tornaram comuns na sociedade que viam toda manifestação de prazer como algo negativo, isto explica em parte o porque de coisas como sociedades secretas em sentido estrito e o carnaval numa esfera mais ampla fazerem tanto sucesso, causando fascínio nas pessoas, este se explica destas organizações e manifestações provocar o retorno nostálgico a uma espécie de “ paraíso perdido” onde tudo é permitido.

Portanto o controle do puritanismo é feito entre outras coisas pela sublimação, esta que segundo Freud “é uma força primaria da libido”, sendo a mesma desviada para outras funções não sexuais e por extensão erótica, mas que são valorizadas socialmente, entretanto o mesmo puritanismo permitia a dupla moral, pois com as funções definidas para homens e mulheres somado as formas de coerção puritanista, aonde o sexo e toda atividade prazerosa é relegada a parcos momentos, nas horas vagas, pois segundo a moral burguesa “ o ócio é a fonte de todos os males e vícios”. Logo podemos perceber que ocorre uma deserotização da sociedade de uma maneira geral e quem carrega este fardo é a mulher, esta que sofre por esta sobre a tutela do pai ou do marido, pois no principio quando a organização social era matriarcal existia um nível muito maior de liberdade, algo que gradativamente foi reduzida com a inserção da organização de orientação patriarcal, esta situação criou a dupla moral, tanto para homens quanto para mulheres, em relação ao primeiro tudo era permitido, na medida em que os homens podiam ter prazer fora do casamento, algo socialmente vedado às mulheres. Em face disto tínhamos como resultado a manutenção da ordem na sociedade, pois a dupla moral garantia a cota de prazer, ainda que meramente genital, ao homem, em relação às mulheres a dupla moral criou uma situação na qual as mesmas tiveram que usar de certas artimanhas para conseguir se movimentar nesta sociedade, mas não sofriam sanções desde que mantivessem a aparência harmônica da família, ponto fundamental da sociedade burguesa.

Esta realidade é fruto de uma educação repressora em todos os sentidos e principalmente na área sexual, entretanto a mesma era ambígua, principalmente para as mulheres, até hoje é forte o apelo ao recato feminino, em contrapartida os homens sofre um forte apelo para desenvolver sua masculinidade dentro da linha do macho conquistador e viril de outrora, entretanto esta realidade começa a mudar a partir dos anos 60 com mudanças que influenciariam o mundo até hoje, movimentos como o estudantil, feminista, negro e por ai a fora começaram a propor um novo paradigma para a sociedade ocidental, diametralmente oposto ao vigente criado pela sociedade burguesa a partir do XIX, logo provocou uma revolução nos costumes, algo que tem na sociedade atual o apogeu dos seus efeitos,entretanto qual foi a reação das esferas dominantes burguesas frente a estas manifestações, a este novo modelo de sociedade proposto, simplesmente cooptou parte das reivindicações para amenizar seus efeitos na ordem vigente.

O resultado disto foi a aparição das ditas revistas “eróticas” e nos dias atuais podemos estender para os atuais filmes, sites e reality shows da vida, tendo objetivo é ver, observar aquilo que antes era proibido , proporcionando uma falsa sensação de liberdade, esta que na verdade é mera permissividade em sua face mais mesquinha, maquiavélica, pois a sexualidade é algo para ser difuso e para além do ambiente meramente sexual, em face disto Eros é uma realidade que deve estar em todo o ambiente e em atividades não sexuais também, isto nos faz lembrar de uma afirmativa de Platão “ Eros é toda busca por bens e felicidade”, isto explica muito da loucura que é a nossa sociedade, isto é, fragmentada, genital, deserotizada, consumista, desequilibrada e etc, tudo porque nos dão migalhas, somos cães, estamos numa situação suplicante aonde um pouco de prazer que nos dão é visto como um ato de caridade, tal qual um cão que estando a dias como fome recebe um alimento de alguém, em face disto quando nos concedem um pouco de prazer, parece um ato de libertação, quando na verdade é uma sutil, sofisticada de repressão.

Bom, podemos concluir, portanto que a superação do puritanismo não significou maior liberdade, mas criou novas formas, estas sutis, de repressão, neste quadro Eros continua aprisionado na sua condição Tanatos, assim como os indivíduos estão presos, atados aos grilhões da moral repressora disfarçada de libertadora em sua face permissivista.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Carta de uma professora

Márcio C. Almeida

Historiador.

Bom resolvi publicar carta desta como forma de divulgar o desabafo dos profissionais de educação de todo o país, pois nós somos desrespeitados em todos os aspectos, por governantes, pais e lamentavelmente alunos, por favor leiam este desabafo, o nome da docente está no final da carta, divulgada por um outro cidadão igualmente professor e indiginado.

Esta carta reflete o óbvio, que este, mais um, incompetente ministro da "Des"Educação finge não conhecer. O ministro Haddad deveria chorar e não comemorar o dito "Piso Salarial" de R$ 950,00 que na verdade é quase um teto (ou alguém terá forças para trabalhar na escola pública numa jornada superior a estas 40 horas?). E outra, gostaria de saber se ele acha digno para um professor com formação superior viver com R$ 950,00? Isso para mim, com todo respeito, não condiz com o investimento necessário (eu gastei cerca de R$ 40 mil em 4 anos numa instituição privada) para hoje se tornar um bom professor, e mais, isso significa o pagamento de menos que 3 salários mínimos para um profissional que deveria ser valorizado, pela sua função e demanda social!

A "Des"Educação brasileira avança, porém em passos lesmáticos - na contramão de nossas reais necessidades em termos de valorização do profissional e investimentos em qualidade de ensino e infraestrutura.

E pensar que Lula demitiu o senador Buarque (PDT-DF) do cargo pelo telefone, e em seu lugar colocar este "mauricinho" que mais parece uma fotocópia de "educadores" como o Gustavinho da revista Veja ou mesmo da louca que dirige hoje a secretaria de educação do estado de São Paulo. Pelo menos no senador Buarque eu sinto um real compromisso com a educação, especialmente enquanto cerne de um projeto real de futuro para o nosso país.

Por isso, reforço o que foi dito nesta carta da professora paulista, e daqui das Minas Gerais faço ecoar o desejo de FORA HADDAD!!

Abraços, sempre indignados, do colega educador Professor Tiago Menta.

Quinta-feira, 17 de Julho de 2008,
São Paulo, 16 de julho de 2008

Prezado Sr. Fernando Haddad
Ministro da Educação do Brasil

Sou professora da rede estadual de ensino, no Estado de São Paulo. Estou há três décadas no trabalho do ensino. Nunca pedi licença médica e tenho pouquíssimas faltas. Fui casada e tenho um filho, que criei sem pedir pensão para meu marido que, por razões que não vem ao caso, não podia arcar com tal despesa.
Senhor Ministro, eu poderia tratá-lo de "você", pois é bem mais novo que eu, é menino ainda. Mas, dado estar em um cargo do governo, vou usar o "Sr.", mas isso não implica em um tratamento para "colocar distância", como os antigos faziam em jornal do interior.
Assisti ao programa do Jô Soares, quando de sua entrevista. Vi que uma moça fez uma pergunta ao senhor, sobre filosofia e sociologia no ensino médio. Ela queria saber o que o senhor faria para preparar melhor esses professores. O senhor repetiu as informações que o Jô já havia passado e que está nos jornais, a respeito da lei que colocou a filosofia e a sociologia no currículo da escola média. O senhor não tinha nenhuma proposta para dizer, e não respondeu a pergunta da moça. Fiquei bem decepcionada.
O senhor também disse que falta dinheiro para a educação. Como outros que passaram pelo seu cargo, o senhor tratou logo de culpar o passado pela falta de dinheiro. Ou seja, o governo do Presidente Lula não teria responsabilidade sobre o assunto, mesmo já estando em segundo mandato. Os responsáveis seriam os antecessores. Vi sua resposta como uma fuga.
Esperava mais, mas nada apareceu na entrevista de novo além do fato de que o senhor tem tempo para fazer aulas de lutas marciais três vezes por semana. E no meio dessa informação, vi também que o senhor se vangloriou por ter conseguido aprovar o piso salarial para os professores – 950 reais para 2009. Nesse caso, penso que a questão das lutas marciais vem a calhar. Por favor, preste atenção.
A compra de supermercado que faço para minha casa, para duas pessoas, fica em 200 reais mensais. O aluguel de nosso pequeno apartamento, de apenas dois minúsculos quartos, é de 400 reais. Gasto 150 reais de transporte coletivo no mês. A Internet que temos – como necessidade de trabalho – dá um gasto de 70 reais, e a velocidade é a mais baixa do Speed. Compro livros e, em geral, gasto nisso algo em torno de 50 reais no mês. Tento economizar nisso, mas é impossível na função de professora não comprar livros. Mantenho-me atualizada em cinema, para poder conversar com os jovens para quem dou aulas, e isso leva do meu orçamento mais 40 reais no mês. Meu filho não tem ainda 18 anos, mas trabalha e ajuda em casa, e graças a isso quase conseguimos fechar o mês. Não posso contar com todo o dinheiro dele, pois ele paga escola e condução. Ele dá duro em uma firma de fotocópias, e chega esgotado para ir para a escola. Também chego tarde do serviço, pouco nos vemos. Não é uma vida fácil. Quando ficamos doentes, nosso orçamento estoura – a farmácia é um local que não podemos entrar sem sair de lá com no mínimo uns 50 reais gastos – isso é batata. Felizmente, gozamos de boa saúde.
Bem como o senhor pode ver, a soma de meus reduzidíssimos e espartanos gastos é maior do que os 950 reais do piso salarial em determinados meses, e noutros, empata. Até meados de 2009, eu estarei gastando mensalmente mais do que os 950 reais.
Mas há algo ainda mais triste. Li que os 950 reais nem são para 2009, na realidade. Pois deverão ser alcançados "gradativamente", num prazo maior, que poderá chegar até a mais que 2010. Isso é tudo? Não! Há algo mais perverso nessa conversa: as estatísticas governamentais (e só elas) dizem que a maioria dos professores ganha mais do que o piso, e que por isso o senhor está "rindo à toa" ao aprovar o piso, pois considera "muito bom" para os professores. Senhor Ministro, há erro nisso. Os professores vão ganhar por 40 horas os 950 reais, e isso não pode ser comemorado, pois a profissão continua sendo desprestigiada com tal salário. Pois em vez do senhor ficar preocupado em comparar o nosso salário com o de outras profissões com igual anos de estudo, o senhor faz comparações regionais que não levam em conta também os gastos de cada um em cada região. Não é verdade que quem está em uma região mais pobre e ganha menos tem um custo de vida menor do que quem está em São Paulo. Cada local tem especificidades, e no geral, a verdade é que com esse piso a profissão de professor não melhora em nada, pois continua sendo uma profissão que, se a abraçamos inteiramente, não nos dá sustento.
Ora, mas se a profissão de professor é para ser "um bico", como podemos ter outro trabalho se a jornada por 950 reais é de 40 horas? Não posso vir trabalhar em três períodos, pois o "terceiro turno" eu tenho de fazer no serviço de casa, além de ter de corrigir provas, preparar aulas, estudar, cuidar do meu filho etc.
Além disso, a comparação do senhor está errada, por outra razão: quando eu era uma estudante de colégio, meus professores viviam com um salário proporcionalmente maior do que o que tenho hoje, e tinham melhores condições de trabalho. Estudei mais que eles, para ganhar menos. O senhor é mocinho, e tudo indica que veio de família rica. Não sei se entende o que é o Brasil e o que foi o Brasil.
Bem, chego então na questão das lutas marciais. Vi que o senhor tem uma barriga. Ainda moço, mas já tem uma barriga. As aulas de luta marcial que faz não estão ajudando, não é? Os ricos sempre comem mais do que podem tirar com a ginástica. Então, minha sugestão, com o devido respeito, é a seguinte: tente fazer a minha vida por apenas um mês, pegando ônibus e enfrentando classes de adolescentes, lecionando seriamente. Volte para a casa e faça a janta. Limpe a casa uma vez na semana. Em um mês, eu garanto, verá que as aulas de luta marcial são ineficientes para tirar a barriga, e que o que eu faço, sim, dará ao senhor um corpo sem malhado. Não sei se dá saúde, mas cansaço físico e mental insuportável, isso dá.
Não estou reclamando, minha carta é apenas para mostrar que e o que eu faço talvez até dê mais saúde do que outras profissões. E o senhor poderia participar desse programa, nem que fosse por um pequeno período experimental. É sério, sem demagogia, o senhor deveria experimentar, por um mês, tentar viver com 950 reais dando aula aqui no Estado de São Paulo. Aula no Ensino Médio, em escola pública. Tenho certeza que após tal experiência, o senhor iria se tornar um Ministro da Educação melhor.
Agradeço demais por ter lido minha cartinha.

Sua admiradora,
Ana Luísa Costa Matos, professora de filosofia da Rede Estadual