quarta-feira, 30 de julho de 2008

A rodada de Doha: choque entre colonizadores e colonizados


Márcio C. Almeida
Historiador.

A rodada de Doha ocorrida em Genebra, capital da Suíça foi vista após o seu término pelos analistas políticos e econômicos como um verdadeiro fracasso, colocando em xeque a capacidade das nações conseguirem agir de forma conjunta em questões fundamentais como meio ambiente, conflitos étnicos e etc. Entretanto mais do que um fracasso do ponto de vista político – econômico mostra como o conhecimento histórico é importante para analisar estas questões, pois o que observamos em Doha foi um choque entre os colonizadores de outrora (Europa) e da contemporaneidade (EUA) contra os colonizados de sempre (países em desenvolvimento), a atitude de China e Índia em Doha foi a mesma que os atuais estadunidenses tiveram contra a antiga colônia a Inglaterra no processo que culminou na independência dos EUA, ou seja, os mesmos rebelaram –se contra as imposições desiguais da metrópole em relação a então colônia, também é compreensível a acusação do jornal argentino La Nación que chamou o Brasil de traidor, devido ao fato da diplomacia brasileira ter focalizado os seus interesses em detrimento dos outros países aliados fugindo da atitude maniqueísta de que “o que é bom para os ricos significar ser ruim para os pobres”, entretanto a atitude brasileira mostra a nossa velha, e as vezes maléfica, tendência conciliatória ao contrario dos argentinos que são mais radicais nas suas posições, lembra – nos inclusive o pensamento da maioria dos nossos fazendeiros no processo que proporcionou a independência do Brasil, pois a maioria pensava da seguinte maneira, pouco interessava se continuaríamos ligados ou libertos de Portugal o que importava de fato era a liberdade econômica, assim como para os nossos diplomatas não importou muito a lealdade aos nossos parceiros seja os do Mercosul quanto os do Bric, pois no momento em que os representantes brasileiros perceberam que a proposta da OMC favorecia a economia brasileira tratou de concordar com a OMC o que desagradou entre outros a Argentina principal aliado brasileiro no Mercosul e Índia e China parceiros do Bric, justamente os países que opuseram – se as potências do norte, ou seja, EUA e União européia.
Entretanto o que a opinião publica internacional classificou de intransigência, isto é, a atitude de EUA, China e Índia levaram ao fracasso a rodada de Doha mostra que novamente aqueles por anos a fio foram explorados levantaram –se contra a opressão das potências globais, mostrando que a liberdade comercial só existe na teoria, que a globalização, nome moderno para o velho colonialismo, só vale de cima para baixo e nunca ao contrario como ficou claro na posição dos europeus e americanos que dificultaram ao máximo as negociações, queriam o fim do protecionismo industrial nos países em desenvolvimento mas, com a manutenção dos subsídios agrícolas em suas nações, isto nada mais é do que a versão atualizada do pacto colonial, no passado os países dominados enviava as matérias – primas e recebia os manufaturados, no presente esses países continuariam enviando matéria – prima só que agora teriam de concorrer com as empresas estrangeiras que viriam para estas regiões sem nenhum entrave, entretanto os agricultores dos países em desenvolvimento continuariam vendendo seus produtos nestes países sofrendo fortes restrições de ordem econômica, isto tornaria os mesmos mais caros do que locais que são subsidiados pelos governos dos países desenvolvidos, residiu ai o impasse em Doha e a atitude colonialista dos países desenvolvidos, pois a flexibilização tem de ser linear, proporcionando a isonomia comercial a todos e não apenas a alguns como querem as potências do norte, eles acusam os indianos de protegerem sua agricultura, entretanto os subsídios agrícolas são o que, eles podem proteger sua agricultura os hindus não, os chineses também não, os países latinos e africanos idem, assim fica muito fácil fazer acordos aonde os interesses dos outros são negados em favor dos meus.
Em face disto podemos tirar algumas conclusões a primeira é que dificilmente os interesses dos pobres serão atendidos pelas nações ricas, o segundo e que as potências do norte continuam a nos ver como colônias podendo, portanto fazer o que bem entende, ou seja, boicotar produtos, perseguir pessoas e impor unilateralmente as suas vontades, o terceiro é a importância dos acordos bilaterais que serão mais necessários do que nunca e os países que colocaram –se de um lado ou de outro ainda que pelos motivos certos serão mal vistos a partir de agora, portanto necessitaram de grande habilidade diplomática para dissipar a imagem deixada, acima de tudo ficou um ponto de interrogação na capacidade dos países dialogarem acerca dos assuntos fundamentais para o mundo atual.

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