quinta-feira, 17 de junho de 2010

O mito do aluno perfeito

Marcio C. Almeida
Professor e historiador

Certo dia lendo o livro do genial e célebre historiador inglês Eric Hobsbawn, chamado “sobre a história”, fui tocado por uma passagem do livro logo no primeiro capítulo, a mesma tratava –se de uma passagem entre o autor e seu professor quando o mesmo concluía seus estudos universitários, preparando – se para ser professor, ou seja, para exercer a nobre arte de lecionar, esta foi a seguinte:
“As pessoas em função das quais você está lá”, disse meu próprio professor, “ não são estudantes brilhantes como você. São estudantes comuns com opiniões maçantes, que obtêm graus medíocres na faixa inferior das notas baixas, e cujas respostas nos exames são quase iguais. Os que obtêm as melhores notas cuidarão de si mesmos, ainda que seja para eles que você gostará de lecionar. Os outros são os únicos que precisam de você”.
Lendo este relato podemos ter a seguinte reação: “poxa estou condenado a lecionar para a escória da sociedade”, pois trazendo isto para a realidade educacional brasileira, aonde 87% da população é atendida pela rede pública de ensino e excetuando – se as escolas federais que atendem a classe média e alta, as redes municipais e estaduais de todo o Brasil as camadas mais baixas da população brasileira e os pobres e os negros em particular, estes foram vistos na maior parte da história deste país como a escória da sociedade, isto ainda perdura em pleno século XXI, mesmo levando em consideração as melhorias em termos de conscientização nos últimos anos. Entretanto podemos observar o mesmo relato de outra maneira, considerando que os alunos geniais precisam menos do nosso auxilio, pois detém maior autonomia intelectual, cabe a nós professores levar a estes que são excluídos em nossa sociedade o conhecimento, apresentado o mundo do saber aos mesmos para que possam atuar de maneira determinante na sociedade, estes verdadeiramente necessitam de nós, esta reflexão também ajuda a reduzir a força do mito do aluno perfeito, pois muitos de nós professor sempre valorizamos o aluno quieto, arrumadinho, em suma damos crédito ao protótipo perfeito, entretanto este aluno nem sempre atinge o mínimo necessário do ponto de vista do aprendizado para avançar para serie ou ciclo seguinte, do mesmo modo que muitos alunos que não se enquadram no protótipo ideal descrito acima detém bom rendimento escolar, entretanto podem não ter um comportamento muito condizente com o ambiente escolar o que leva muitos docentes a não ter muita benevolência com este tipo de aluno ao contrário do modelo oposto.
Em face disto o relato do Hobsbawn torna – se pertinente para a nossa reflexão, pois mostra que criamos uma expectativa exagerada acerca dos alunos e mais, devotamos a nossa atenção aos alunos nos quais de certa maneira podemos visualizar a nós mesmos, entretanto como fica aquele aluno que nunca recebeu um elogio nosso este que não enquadra – se no mito criado por nós professores ao longo da história educacional do Brasil, são justamente os que mais precisam do nosso entusiasmo, exemplo, dedicação e tudo dentro do possível. Agora não podemos ser escravos deste mito pelo fato deste muita das vezes levar à nós docentes cometer injustiças, isto porque a maioria da clientela que temos na escola pública não se enquadra no mitológico perfil, logo tornam – se párias nas unidades de ensino, tratadas com desprezo nos conselhos de classe e etc. claro que não estou defendendo os alunos desinteressados, mas sim aqueles que querem algo, entretanto não sabem como atingir tal objetivo, portanto amigos, companheiros, enfim, heróis docentes vamos procurar olhar com maior carinho para aqueles que não tem a atenção de ninguém, nem da sociedade, muito menos da família, restando apenas a nós professores como última esperança de que sejam ouvidos, termino este reflexão com a célebre frase de Pitágoras: “eduquem as crianças hoje para não punir os homens amanha”.
Cabe a nós tamanha tarefa.

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