quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Poema de Brecht

Sinto imenso prazer de publicar este poema clássico de Bertolt Brecht sobre os anônimos da história e por extensão uma crítica a historiografia que exalta os heróis, esta comprometida com as instâncias mais altas do poder, portanto que os visitantes deste blog possam se deleitar com este maravilhoso poema do gênio alemão.


Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilónia tantas vezes destruída
Quem a ergueu outras tantas?
Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China?
A grande Roma está cheia de arcos de triunfo.
Quem os levantou?
Sobre quem triunfaram os césares?
A decantada Bizâncio só tinha palácios
Para seus habitantes?
Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu.
Os que se afogavam gritavam pelos seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a India.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses.
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?
Felipe de Espanha chorou quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu, além dele?
Uma vitória em cada página. Quem cozinhava os banquetes da vitória? Um grande homem a cada dez anos. Quem pagava suas despesas?
Tantos relatos. Tantas perguntas.

Bertolt Brecht 1898-1956

Nenhum comentário: