terça-feira, 24 de maio de 2011

Levantes contra o Capital




Marcio Almeida - historiador e professor.

Nos últimos anos temos visto uma série de levantes pelo mundo, tendo como pano de fundo a reação aos desmandos do capital, do Cairo a Madri, passando por Londres, Lisboa, Paris e outras capitais da Europa o capitalismo se tornou o grande inimigo destas populações, o mais curioso é que tanto as esquerdas tradicionais, quanto à direita modernizante, transvertida de liberal são vistas como vilãs nesta história toda, o que é algo novo na conjuntura política mundial, pois não observamos tal fenômeno durante boa parte do século XX, entretanto podemos identificar em que momento esta conjuntura que observamos hoje começou a ser criada e temos que retornar aos anos 80 e 90, ou seja, as ultimas duas décadas do século anterior.

O fim do mundo soviético marca o inicio do processo de mutação que os partidos de esquerda iriam sofrer durante os anos 80 e 90, principalmente a última década, momento que marca o apogeu do neoliberalismo, a partir do colapso soviético e por extensão de toda área de influência dos mesmos, ou seja, a região dos bálcãs o socialismo real passa a ser visto como algo fracassado dada a incapacidade do mesmo de competir com o mundo capitalista, em face disto os partidos de esquerda ficaram num beco sem saída, pois perderam a retórica de outrora, isto é, o referencial soviético frente a ao mundo capitalista cristalizado pelos EUA, entretanto outras perspectivas de aplicação do socialismo que foram relegadas a um plano secundário, sendo aplicada em outros lugares e mesmo o welfare State que surgiu a partir do medo das potencias capitalistas européia da onda vermelha que tomava conta do velho continente no entreguerras mostra que era possível se não eliminar, mas pelo menos submeter o capitalismo frente aos interesses do povo. Entretanto as esquerdas tradicionais da Europa seguiram um outro caminho, este que no Brasil também foi adotado pelo PT e era chamado de articulação, este em 2002 levou o mesmo ao poder, a nova orientação das esquerdas foi seguir o canto da sereia do capitalismo.

A partir do momento em que as esquerdas em escala mundial começaram a seguir as orientações neoliberais e que gente do FMI, banco Mundial, entre outros começou a freqüentar os salões dos governos de esquerda a coisa desandou e o resultado é o que vemos hoje, partidos de esquerda que querem reduzir direitos dos trabalhadores em nome dos interesses do capital, transferência das perdas do mercado financeiro para o povo, entretanto o mesmo não partilha os lucros do capital em tempos de bonança, logo a reação pelo mundo frente aos desmandos destes partidos que estão no poder. Em relação à direita e aqui temos que fazer uma pequena distinção, pois trata – se aqui da direita modernizante e não dos grupos ultraconservadores do mesmo espectro político, o fato que mantém os mesmo em sua condição de vilões é que o capitalismo se apresentou como a grande solução para os problemas da humanidade e passado pouco mais de duas décadas do colapso soviético e do socialismo real o mesmo está sendo contestado em todas as partes do mundo, neste mesmo espaço de tempo o capitalismo produziu uma riqueza sem precedentes, entretanto a pobreza aumentou na mesma escala, hoje temos pessoas sendo excluídas da própria exclusão, algo que Zygmunt Bauman chama de refugo e Leonardo Boff de zeros sociais e mais este mesmo capitalismo cantado em verso e prosa pelos poetas do capital tenta acabar com o pouco de direitos que os cidadãos tem em seus paises, logo as reações ocorreram pela Europa e outros paises mundo afora.
Em face disto temos que construir um projeto de mundo alternativo ao que temos e para desespero de alguns que não cometa os erros dos projetos do século XX que mesmo bem intencionados acabaram se tornando ditadura, temos que transformar a democracia em força revolucionaria, de transformação da sociedade em escala global, tirar a mesma da condição de serva do capital, pois nos impõem a democracia liberal como o único caminho democrático a seguir e sabemos que a mesma tem na sua capacidade de transformação constante sua maior força, nela que podemos realizar os ideais humanísticos implícitos no socialismo, na idéia de bem comum aristotélica, enfim aonde podemos plenamente gozar da condição humana, entretanto temos que derrubar os sistema que hoje se encontra no poder, pois a queda do mesmo significa a libertação da humanidade.

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